Apontar uma estrela

 
A origem da expressão que alertava sobre os riscos de apontar para o céu

Dizia-se, antigamente, que apontar para uma estrela fazia nascer uma verruga na ponta do dedo, já pensou? Incrível é que essa estranha crendice ainda seja aceita por muita gente. Vá lá, mas qual o berço dela?

O calendário judaico é regido pela lua. Por ele, o despontar da primeira estrela no firmamento marca o início de um novo dia. Antes da expulsão dos judeus da Espanha, em 1492, e de sua conversão forçada em Portugal como cristãos-novos, era comum que as crianças judaicas, no entardecer das sextas-feiras, véspera do dia sagrado do Shabat, apontassem um dedinho para o céu, procurando o brilho da primeira estrela.

Era a Estrela d’Alva, também conhecida por Vésper – que, na realidade, não é uma estrela, e sim o planeta Vênus, que, por brilhar com mais intensidade, destacava-se dentre os outros corpos celestes.

De repente, o gesto infantil passou a denunciar a condição étnica da criança, o que levava as mães, assustadas pela Inquisição, a advertir os filhos para o risco no nascimento de uma baita verruga no dedo do pimpolho caso ele apontasse para a estrela.

Felizmente, a ridícula superstição caiu no olvido. No interior, porém, ainda há gente que acredita nessa bobagem. Mas, pudera, outros se pelam de medo só de ouvir falar em mula-sem-cabeça, no mbitatá, no boto que engravida as moças do Amazonas...


Por Márcio Cotrim – Autor, dentre outras obras, dos livros ‘O Pulo do Gato I II (Geração Editorial).
Revista Língua Portuguesa
Edição 58 – Agosto de 2010

Comentários

  1. Quando era criança ouvi muito isso. Mesmo assim apontava todos os dedos para o céu esperando me transformar numa verruga gigante.

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